Lages avança no atendimento à mulher vítima de violência

04/12/2017

-Foram várias agressões assim... só que eu não contava pra ninguém. Porque no outro dia ele me cuidava, me medicava, me levava no médico. De tanto coice que eu levei nessa vida eu não sei como que eu não morri.

O relato acima é de uma adolescente de 18 anos, que desde os 14 anos era agredida pelo companheiro, e faz parte do grupo de 83 mulheres que já foram atendidas pela Secretaria de Política Pública para Mulher, a primeira para este segmento em Santa Catarina, implantada em Lages no mês de fevereiro. Do total, 61 vítimas ainda estão em acompanhamento.

A secretaria foi implementada em Lages para tentar reduzir uma marca que envergonha Santa Catarina: a cidade serrana está entra as 17 brasileiras com maior índice de violência contra a mulher, segundo o Mapa da Violência de 2015. O acompanhamento adequado ajuda e dá suporte para que as mulheres possam denunciar e tomar atitudes para sair desta situação. A jovem citada acima, por exemplo, conseguiu se separar do companheiro e voltou a estudar.

- Hoje eu trabalho e estudo. Tenho a vida que eu sempre quis - diz.

O espaço na Avenida Presidente Vargas tem atendimento multidisciplinar: assistência às vítimas e atendimento ao agressor e às famílias. As mulheres que precisam sair de casa com os filhos para um local seguro são acolhidas em uma instituição onde recebem alimentação.

- A gente vê o que falta com relação aos filhos, a documentação, a saúde, o nível de escolaridade, se elas querem retornar aos estudos. E nesse momento em que elas estão aqui é hora de fortalecer, é hora delas se distanciarem desse violentador. O agressor mina a esposa, ele vai tirando os vínculos familiares dela, as afastando da rede de amizades - diz a psicóloga que atende na Casa de Apoio a Mulher Vitima de Violência, Daiane Guerra.

A secretaria conta com uma equipe técnica especializada para dar acompanhamento psicossocial, orientação, acolhimentos, articulação e os encaminhamentos adequados. Vários órgãos como Conselho Tutelar, Delegacia da Mulher e Ministério Público trabalham juntos com o mesmo objetivo: ajudar a vítima e evitar que algo mais grave aconteça.

Segundo a secretaria, o atendimento ao agressor também é uma parte importante. Na maioria dos casos, o violentador faz o uso de drogas e a bebida alcoólica está entre os principais motivos dos excessos. Apesar da forte resistência, muitos são encaminhados para tratamento por meio de parceiros como a Secretaria da Saúde, Comunidade Terapêutica (Crensa) ou para o Hospital Santa Cecília (SC).

Os familiares das vítimas e dos agressores também recebem atendimento social.

- As famílias são em maioria muito desestruturadas, e a violência vai passando de geração após geração. Por isso, vamos começar um trabalho forte nas escolas, para que os meninos cresçam com outra mentalidade, valorizando e respeitando à mulher. Também é nas escolas que se descobre casos de violência, até mesmo sexual contra as meninas - afirma Marli Nacif, titular da pasta.

Resultado construído aos poucos

Segundo a responsável pela pasta, Marli Nacif, do total de mulheres acolhidas, cinco começaram vida nova longe dos agressores.

- Os resultados estão acontecendo aos poucos, uma vez que são situações muito difíceis. Mas só a confiança que estas mulheres adquiriram e o fato de terem nos procurado espontaneamente é alentador - diz Marli.

Para a coordenadora do Fórum de Mulheres do Mercosul seção Lages, Erli Camargo, o número, apesar de pequeno representa um progresso no que tange o assunto violência doméstica.

- Considerando o que era a gente já avançou bastante, o número de cinco pessoas sendo afastadas do ambiente em que foram agredidas para nós é uma vitória bem grande. É muito complexa a realidade que circunda qualquer tipo de relação que vai parar na delegacia, no Ministério Público ou na Secretaria de Política Pública para Mulher. Elas já vão mesmo porque não têm mais aonde recorrer - avalia a coordenadora.

© 2017 EVERTON CATARINA, Jornalista e fotógrafo profissional. Florianópolis / SC.
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